segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Angola – Ame-a ou deixe-a

PARTE III

Angola mudou e Luanda mudou mais ainda, desde os primeiros anos do sonho de se erguer um “Homem Novo” até estes anos recentes em k despertou o “Homem de Sempre”, o resignado o k acorda todos os dias para unicamente tornar a acordar mais uma vez, muito se passou neste grande e quente território. A partir do momento em k Agostinho neto, no acto de proclamação da independência diz: …No entanto, tendo em conta o facto de Angola ser um País em que a maioria da população é camponesa, o MPLA decide considerar a agricultura como a base, e a indústria como factor decisivo do nosso progresso… As nossas escolas, a todos os níveis, deverão sofrer uma remodelação radical para que possam de facto servir o Povo e a reconstrução económica…
Julgou-se que seria realmente assim, desenvolver a agricultura e a industria, mas pouco realmente se fez nesse sentido, o k existe actualmente de grande produção agrícola pertence com raras excepções a estrangeiros pois entre os nacionais letrados poucos são os k consideram o trabalho agrícola digno de um homem letrado, em relação à industria existe o mesmo cenário de completa entrega aos estrangeiros por nítida falta de iniciativa e capacidade ou paciência de esperar pelos lucros, que podem mediar anos largos no caso da industria especializada, pois a ideia vigente entre os nacionais mais preparados é a de tentar enriquecer no mais breve espaço de tempo e isso não se coaduna com projectos arrojados na agricultura ou na industria e entre aqueles k querem, pura e simplesmente não o podem fazer por falta de recursos ou mesmo por desinteresse da banca. No caso das escolas a boa vontade do poeta presidente e o caminho por ele indicado parece estar muito esquecido, faltam escolas públicas de qualidade e as k existem estão muito longe de ser gratuitas. Para um pai ou uma mãe não deixarem os filhos fora da escola são compelidos ou corrompem os funcionários das secretarias num mínimo de cem dólares para unicamente assegurarem a matrícula numa escola primária ou num liceu, e a estes pagamentos, k podem variar consoante a escola e a procura, devem sempre acrescentar autênticas fortunas para a compra dos livros oficiais k na maior parte dos casos só se encontram à venda nos circuitos paralelos a preços muito superiores aos da editora. De salientar também k se está a passar o mesmo nos jornais, como não existe uma política de preço máximo acontece que os jornais desaparecem das editoras com um preço de 40 kwanzas e aparecem à venda na rua a 100 ou mais kwanzas por exemplar e isto num país onde o ordenado mínimo é de 10.000 kwanzas ou 150 dólares-USD, está fácil de ver k mesmo os k se queiram informar não têm outro remédio k não o de deixar de comer para poder comprar o jornal diariamente.
Agostinho Neto não esperava por isto e sinceramente eu também não. No entanto em 1979 num discurso pronunciado na cidade do Lubango ele disse: …Nós não temos em Angola uma burguesia com poderes. Não temos, mas podemos ter no futuro, se não tomarmos cuidado…
Parece-me k realmente os cuidados foram poucos.
Agora tudo à minha volta está mudado e para melhor, em alguns aspectos, já consegui ir de jipe até ao Huambo, cidade no interior de Angola, a quem os portugueses chamaram orgulhosamente, completamente alienados da realidade das suas próprias políticas, de Nova Lisboa, cidade pacata com gentes de várias procedências mas com predomínio do sul de Angola, cidade extremamente organizada, bela nos jardins, nas casas e nas ruas, pessoas muito amáveis e atenciosas que falam com uma pronúncia muito diferente de Luanda, quase cantando as palavras e não descurando o sorriso por entre as frases, uma cidade com muito futuro à frente e quem sabe atrás, se assim quiserem os seus dirigentes e caso a vontade da sua população não seja corrompida pelas modas de Luanda.
As estradas de acesso à cidade estão em fase de recuperação e muitas outras se constroem, dizem-me que se viaja para todo o lado mas convém ser de jipe, aproveitei assim para ir também a Benguela e depois Lobito. E porque o tempo voa quando estamos felizes, não tenho alternativa senão regressar a Luanda passados cerca de trinta dias do inicio da viagem, pois que ainda sou estrangeiro mesmo que sinta que estou em casa.

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