terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Angola - Ame-a ou Deixe-a

PARTE I

Entrei agora para o segundo mês do ano de 2009, vou assim também dar entrada no segundo mês da minha estadia em Angola.
Depois de uma passagem breve no início do ano de 2008, após 16 anos de ausência, onde por razões várias não consegui visitar o território das minhas mais felizes memórias, encontro-me agora aqui e aqui sei que vou ser feliz fique o tempo que ficar.
Vivi em Angola desde os meus dois anos de idade até ingressar no ensino superior. Por essa altura devido a tropelias várias entre os homens poderosos deste país e do mundo, que não se entendiam, que se odiavam, que se guerreavam ao ponto de se mutilarem e morrerem aos milhares, fui compelido a tentar seguir o ensino superior em Portugal pois em Luanda, cidade onde sempre vivi, rareavam os professores no curso que pretendia tirar, viajo então para Lisboa onde durante 16 anos construo partes do homem que sou hoje, principalmente a nível intelectual, com uma compreensão do mundo onde habito muito distinta da que levava a partir de Luanda.
Quando deixo Luanda, logo no principio do ano de 1990, havia a noção muito marcada dos homens bons e dos maus, noção essa criada muito precocemente na escola primária, onde todo e qualquer movimento, pensamento e razão estavam orientados para a construção do homem novo, o homem socialista, o homem do M.P.L.A., o hino nacional era aprendido e cantado desde cedo na vida, as crianças eram pioneiros angolanos, os jovens eram membros de brigadas de juventude aliciados e orientados pela esfera sonhadora da J.M.P.L.A., os adultos tinham armas em casa e no carro, ostentavam braçadeiras que os identificavam, havia salvo-condutos e livres trânsitos, circulava-se na rua até à meia-noite e depois era o recolher obrigatório. Havia campanhas de alfabetização nas cidades e nas aldeias, cidadão que já soubesse ler devia ser patriota ao ponto de fornecer parte do seu tempo a ensinar quem ainda não sabia, havia campanhas de limpeza da cidade e ia-mos crianças, jovens e adultos limpar escolas, ruas e compor jardins, havia comícios grandiosos que enchiam as ruas de bandeiras e de cor. Visitavam o país representantes do mundo socialista e nessa altura compunham-se passeios, estradas e pintavam-se as fachadas dos prédios ou casas por onde eles passariam, havia alegria em Luanda porque em todas as actividades inclusive nas festas mais particulares participavam todos os elementos que partilhavam o sonho comum, a construção do homem novo, e estavam os políticos no meio do povo e estava o povo a alimentar-se nas lojas do povo com cartões de racionamento iguais aos de muitos políticos, mas não de todos pois já os soviéticos ensinavam que apesar de tudo havia diferenças entre os homens, entre os que lideravam e os que obedeciam, e já alguns comiam mais do que outros, mas havia música e dança para todos, o carnaval da vitória, a festa que se dava em casa porque da província tinha chegado um cabrito ou porque nesse mês a fábrica da Nocal tinha conseguido produzir muito mais cerveja do que era normal, e comia-se e bebia-se e ninguém sabia quem pagava. Vivi assim a felicidade de um povo que tem sempre tempo para sorrir e brincar...

1 comentário:

ethel disse...

feliz descoberta o teu blog!